Alerta o presidente francês Emmanuel Macron, numa entrevista à The Economist
Fonte: Visão – Portugal
O presidente francês Emmanuel Macron, concedeu uma entrevista à The Economist, e declarou que a Europa enfrenta um perigo iminente e que “as coisas podem desmoronar-se muito rapidamente”. Ao mesmo tempo, no seu país, a sua popularidade não é linear e as relações com a Alemanha não têm sido fáceis.
A Alemanha (assim como os EUA e o Reino Unido) excluiu a hipótese de se envolver diretamente no conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia. Em conferência para a imprensa, o chanceler alemão, Olaf Scholz, no fim de fevereiro, afirmou que o que foi decidido entre os europeus desde o início “continua a ser válido para o futuro”, que “não haverá tropas no terreno, nem soldados enviados por Estados europeus ou pela OTAN para solo ucraniano”.
Mas, em março, Macron referiu que o envio de tropas francesas e da OTAN para a Ucrânia continuava em cima da mesa, acrescentando, em entrevista a dois canais franceses, que “todas as opções são possíveis”. No final de fevereiro, o presidente francês já tinha referido essa opção, com Scholz a opor-se, excluindo a hipótese de enviar mísseis Taurus para a Ucrânia. Para o chanceler, o uso deste tipo de armas poderia arrastar a Alemanha para a guerra.
A questão da possível utilização da OTAN na Ucrânia tem causado tensões nos últimos meses sobretudo entre estes dois países, mas, num encontro, em março, com Scholz e o primeiro-ministro Donald Tusk, na capital alemã, Macron disse que a França, Alemanha e Polónia estão “unidas, determinadas” e “resolvidas a nunca deixar a Rússia vencer”.
“Continuaremos a fazer como fizemos desde o primeiro dia, sem nunca tomar a iniciativa de qualquer escalada”, acrescentou o chefe de estado francês.
Na entrevista à The Economist, Macron voltou a insistir na hipótese de colocar tropas na Ucrânia, acrescentando que a cautela dos países aliados “apenas encorajará a Rússia a avançar”. “Fomos, sem dúvida, demasiado hesitantes ao definir os limites da nossa ação para alguém que já não os tem e que é o agressor”, afirmou.
Fosso industrial “alarmante” com EUA e China
O presidente francês defende ainda que a Europa não pode ficar dependente a nível militar dos EUA. “A minha responsabilidade é nunca colocar [a América] num dilema estratégico que signifique escolher entre os europeus e os seus próprios interesses face à China”, disse, apelando a que seja realizado um “debate existencial”, com o envolvimento do Reino Unido e da Noruega, para a criação de um “novo quadro para a defesa europeia”.
Macron falou, ainda, do enorme fosso industrial com os EUA e a China, referindo que a Europa deve atuar agora para conseguir recuperar o atraso, nomeadamente a nível das energias renováveis e Inteligência Artificial (IA), acusando os norte-americanos de terem deixado de “tentar fazer com que os chineses respeitem as regras do comércio internacional”.
Para o presidente francês, que abordou também a fragilidade da política europeia e do gigante trabalho que tem pela frente no sentido de tornar a Europa segura, a solução passaria por duplicar a despesa em investigação, desregulamentar a indústria e libertar os mercados de capitais, por exemplo.