À medida que a idade avança, será preciso reforçar as vitaminas e os minerais para se obter melhores resultados cognitivos e físicos?
Por_Visão Saúde_Sónia Calheiros
A mensagem que passa nos anúncios publicitários aos suplementos alimentares é, sem dúvida, bastante apelativa. São “combinações únicas de minerais e vitaminas”, que “garantem o funcionamento cognitivo, prevenindo o declínio e a demência”. Também prometem “reduzir o cansaço e a fadiga” e “ativar a memória”, bem como evitar “alterações do sistema nervoso”, estimular a “absorção de cálcio e fósforo para a manutenção dos ossos” e atrasar “o processo degenerativo e inflamatório da cartilagem”
Quem não gostaria de rejuvenescer o corpo e a mente com a simples toma de uma cápsula, um comprimido ou um granulado? Convincente e tentadora esta fórmula antienvelhecimento que não exige grande esforço por parte de quem se sente a perder a vitalidade, com a imunidade periclitante e a constante ameaça de uma terceira e quarta idades em decadência.
“A novidade são as condições climatéricas. Tivemos até um excesso de mortalidade no verão, quando antes tínhamos o excesso de mortalidade associado às infeções respiratórias do inverno. Recentemente, tivemos temperaturas com uma variação térmica incrível, noites com 17 graus e o dia com 34 graus”, exemplifica Rui Nogueira, médico de medicina geral e familiar.
Uma questão de fé
Depois das reformas das previdências mundo a fora, são várias as características físicas perdidas por quem fica mais tempo em casa, sem objetivos bem definidos. O especialista em medicina geral e familiar elucida: “Da mesma maneira que se desgastam outras capacidades cognitivas e físicas, como a acuidade auditiva e visual, também se perde a capacidade de sentir sede; dá-se a diminuição das defesas, reduzindo a capacidade de fazer febre quando há infeções; perde-se massa muscular… e, portanto, tudo entra num círculo vicioso de degradação progressiva.” Como se contraria isto? Com “atividade física”.
O consumo de suplementos por pessoas saudáveis deve ter sempre orientação médica, pois, em excesso, tem efeitos secundários e até graves. “De modo geral, podem provocar náuseas, vómitos, diarreia, prisão de ventre, irritabilidade, alterações da função renal, aparecimento de cálculos renais. Os sintomas de intoxicação por polivitamínicos em excesso são muito variados”, avisa João Gorjão Clara, professor catedrático de Geriatria e fundador da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados.
Em casos de défice de vitamina D (característica genética dos portugueses, com prevalência superior à média europeia, segundo o estudo Vitacov), de atrofia muscular (como aconteceu depois dos confinamentos) ou em vegetarianos com défice de vitamina B12 (presente em ingredientes de origem animal), por exemplo, o médico jubilado poderia aconselhar vitaminas e suplementos proteicos, mas “nunca devem ser tomados indiscriminadamente”, já que “não são inócuos”, avisa.
Cuidado com o doce
Apesar de as necessidades energéticas dos mais velhos serem menores, não vale fazer refeições só de torradinhas ou sopinhas de leite, só de canja ou de fruta, só de sopa ou de pão e queijo. Muito menos abusar dos doces. “Um gosto reforçado pelo doce desequilibra a dieta, ao ingerirem hidratos de carbono de absorção rápida, presentes em alimentos refinados e processados, como bolos, biscoitos, bolachas. Faz falta a proteína da carne (duas vezes por semana), do peixe e do ovo. Tudo ingerido em quantidades pequenas, para não implicar depois nas funções renais, pois os rins sofrem com excesso de proteína. Também há gorduras simples necessárias, como a do leite, queijo fresco, requeijão, iogurtes e azeite cru”, explica Rui Nogueira.
A recomendação da Direção-Geral da Saúde para os maiores de 60 anos é a ingestão diária, em média, de 1 950 calorias, de preferência distribuídas por várias refeições ligeiras ao longo do dia. Se insistirem em tomar suplementos vitamínicos, saibam que “são excretados pelos rins”.
Algumas das perdas de boas qualidades começam antes mesmo de se ser sexagenário. A diminuição da capacidade de concentração, a memória fugidia, a audição a falhar e a visão a precisar da bengala dos óculos, mais o início da degeneração óssea, sobretudo nas mulheres, durante a menopausa. Em Portugal, contabilizam-se 680 mil doentes com osteoporose e oito fraturas por fragilidade óssea por hora. “A perda de massa óssea começa a partir dos 30 anos. Mas, nas mulheres, acelera um pouco mais do que nos homens a partir dos 50. É a altura em que perdem estrogénios, hormonas necessárias para a absorção e construção da massa óssea. Quando se perdem as menstruações muito precocemente, aí sim, justifica-se um suplemento, que não é suplemento de cálcio para tomar de forma arbitrária; é mesmo um tratamento”, alerta Rui Nogueira.
Aliás, não sendo os suplementos alimentares ou vitamínicos classificados como fármacos, não é possível o Infarmed intervir na forma de divulgação destes produtos, cada vez mais disseminados no espaço publicitário. “Fico mais triste por serem figuras públicas a falar do que não sabem do que as pessoas ficarem iludidas com o alegado resultado”, lamenta o médico. E acrescenta: “A lista de ingredientes é composta por quantidades mínimas, que não fazem nem bem nem mal. São quantidades que não são prejudiciais. É só para tomar com fé.”
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